"Vocês são a luz do mundo... Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens,
para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês,
que está nos céus". Mateus 5:14a, 16
Neste
semestre da faculdade, estudando vários fotojornalistas famosos,
deparei-me com um, em especial, que me chamou a atenção: chama-se Jacob Riis (1849
– 1914), um fotógrafo cristão que deixou sua fé influenciar
positivamente seu trabalho. Ele ficou marcado na história como um dos
fundadores do fotojornalismo e de toda uma escola de profissionais
empenhados em usar a fotografia para intervir sobre a realidade social.
Além disso, é conhecido por ser o pioneiro no uso do flash na
fotografia.
Riis e o Jornalismo
“...pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade.” Efésios 5:9b
Nascido
na Dinamarca, numa família grande e pobre, Jacob Riis desde cedo foi
influenciado por seu pai a ler e aprender inglês, esperando que tivesse
uma carreira literária. Mas ele queria, na verdade, ser um carpinteiro e
emigrou para a América em 1870, aos 21 anos, com esse objetivo.
Contudo, para a maioria dos imigrantes, as coisas não eram tão fáceis, e
Riis sentiu na própria pele a pobreza e o preconceito. Somente em 1873
conseguiu um emprego razoável, numa agência de notícias, a New York News Association.
Depois disso ainda trabalhou brevemente como editor em dois pequenos
jornais da cidade, e, quatro anos depois, tornou-se repórter policial
do New York Tribune.
Durante
esse tempo como repórter policial, Riis trabalhou nas favelas mais
violentas e pobres da cidade e pôde escrever relatos de primeira mão das
indignidades e injustiças na vida dos imigrantes. Através de suas
próprias experiências, ele decidiu fazer a diferença. Com seu estilo de
escrita melodramático, ele tornou-se um dos primeiros jornalistas
reformistas, que não apenas registravam os acontecimentos, mas usavam
seu trabalho como ferramenta de mudança social.
Riis e a Fotografia
“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas,
porque são feitas em Deus.” João 3:21
“Uma
imagem vale mais do que mil palavras.” Este ditado popular começou a
fazer sentido na vida de Jacob Riis. Há algum tempo ele vinha procurando
um meio de mostrar a miséria mais vividamente, principalmente depois de
ter sido acusado de exagerar na sua descrição. Foi quando recorreu à
fotografia, uma arma de persuasão que superava o poder das palavras.
Autodidata,
Riis documentou, durante cerca de dez anos, favelas, guetos de
imigrantes miseráveis em condições de semi-escravidão e sem o mínimo de
condições sanitárias. Suas fotos, chocantes para a época, ajudaram a
mobilizar a opinião pública em favor de leis relativas à educação,
trabalho e moradia. Em 1884, por exemplo, conseguiu que fosse formada
uma comissão para tratar dos problemas de habitação, a Tenement House Commission.
Riis e o flash fotográfico
“Mas, tudo o que é exposto pela luz torna-se visível,
pois a luz torna visíveis todas as coisas.” Efésios 5:13
Como
os equipamentos eram caros, pesados e frágeis, nenhum fotógrafo se
aventurava pelas regiões mais pobres da cidade, e durante algum tempo a
fotografia permaneceu como um brinquedo das classes abastadas. Além
disso, naquela época a fotografia era inútil para registrar algo que
estivesse acontecendo à noite ou num lugar escuro. Jacob Riis achou que
estava na hora de mudar isto. Ele foi o primeiro fotógrafo a usar o
flash, e, assim, pôde registrar a realidade dos bairros pobres de Nova
York, sempre envoltos em trevas e sombras.
Durante
o início de 1887, no entanto, Jacob Riis ficou surpreso ao ler sobre
uma invenção dos alemães Adolf Miethe e Johannes Gaedicke: uma mistura
de magnésio com clorato de potássio e sulfeto de antimônio, formando um
pó que, disparado por um dispositivo, a “panela de flash”, iluminava
suficientemente a cena. Mas o equipamento do flash era perigoso e tinha
que ser manuseado com cuidado. São numerosas as histórias de horror
sobre o pó de magnésio, que poderia causar de problemas respiratórios a
queimaduras graves. Além disso, o flash era ofuscante e produzia uma
torrente de fumaça, incomodando a todos no ambiente.
Riis, uma luz no mundo
“Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra.”
Atos 13:47b
Jacob
Riis foi um homem enérgico, que combinava em sua pessoa o caráter de
diácono da igreja de Long Island e de repórter policial em Nova York.
Como professor da escola dominical, ele incentivava seus alunos a se
envolverem em atividades comunitárias que auxiliassem na redução dos
problemas enfrentados pelos trabalhadores pobres e imigrantes de Nova
York. Foi dessa forma que ele acabou usando a fotografia para documentar
as condições de vida nos bairros mais pobres da cidade.
Riis
acumulou muitas fotografias, mas não conseguiu vendê-las para revistas
ilustradas. Por isso ele começou a divulgar seu trabalho nas igrejas,
inclusive na sua própria. Dessa forma, aumentou consideravelmente o
número de pessoas que tiveram contato com suas idéias, e também pôde
conhecer outras que tinham o poder de mudar aquela situação. Uma dessas
pessoas foi o ex-presidente Theodore Roosevelt, que ficou tão
profundamente afetado pelo senso de justiça de Jacob depois de ler sobre
as suas exposições, que procurou conhecê-lo, nascendo aí uma amizade
para o resto da vida. Mais tarde, comentando sobre Riis, Roosevelt
disse: “eu sou tentado a chamá-lo de ‘o melhor americano que eu já
conheci’, embora ele já fosse um jovem quando ele veio da Dinamarca para
cá”.
Embora
suas imagens tenham sido publicadas como gravuras, elas foram capazes
de causar um forte impacto sobre a opinião pública. Seu primeiro livro,How the Other Half Lives (Como
a outra metade vive), foi publicado em 1890, sendo até hoje um
documento comovente do sofrimento humano. Como a pobreza nunca acabou,
também o trabalho de Riis nunca teve pausa. Ele seguiu fotografando e
escrevendo sempre sobre o mesmo assunto, até morrer aos 65 anos vítima
de um ataque cardíaco. Deixou mais de uma dúzia de livros publicados e o
seu nome na história da fotografia.
Riis e a Luz do mundo
"Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas,
mas terá a luz da vida". João 8:12
Jacob
Riis foi um exemplo de ser humano, de profissional e de cristão. Ele
mostrou na prática que a fé não é só coisa de igreja, mas que podemos (e
devemos) aplicá-la ao nosso estilo de vida, fazendo tudo para a glória
de Deus (1 Co 10:31). Também mostrou que a fé sem obras é morta (Tiago
2:17) e que o amor ao próximo é a marca do crente (1 João 4:8).
Sua
vida foi como o flash que inaugurou: uma pequena luz frágil e
defeituosa, mas que, sendo manuseada pelo Supremo Fotógrafo (Deus), foi
capaz de iluminar o coração de muitos homens, refletindo um pouco da Sua
grandeza, bondade e amor. Que o exemplo desse servo de Deus nos
incentive a viver como verdadeiras luzes nesse mundo.
“Porque outrora vocês eram trevas,
mas agora são luz no Senhor.
Vivam como filhos da luz.” - Efésios 5:8
Por: Débora Silva Costa