"Jesus perguntou, então, aos seus discípulos:
—Vocês entenderam as coisas que eu acabei de dizer?
E eles responderam:
—Sim, entendemos.
E Jesus lhes disse:
—É por isso que todo professor da lei, quando aprende a respeito do reino do
céu, se torna semelhante a um pai de família que tira de seu depósito tanto coisas
novas como coisas velhas." -- Mateus 13.51-52, Versão Fácil de Ler.
Tenho
um grande amigo aqui perto, e nos vemos sempre. Às vezes nos vemos
online ou pessoalmente, mas nos vemos tanto que, ao perguntar pelas
novas, sempre me dá suas velhas respostas-bordão, como "Nada é tão
novo... nada é tão antigo", "As novas já estão todas velhas"... Eu
prefiro dizer que estou sem novidades mesmo. Isso só ocorre porque
sempre lhe pergunto pelas novidades, mesmo que o tenha visto há três
dias. Às vezes eu acho que eu pergunto só para tentar adivinhar qual dos
bordões ele vai usar em cada resposta... Amigos de muito tempo sempre
têm diálogos recorrentes.
Enfim,
estar em dia, quem não quer, não é? Meu navegador de internet, por
exemplo, já abre no Google Notícias para, se eu quiser, acompanhar as
últimas. Como em todo o mundo, a igreja também tem gente assim - e
muita. Por vezes, parece até que só tem mesmo gente assim. Obviamente,
alguns sabem tirar proveito dessa atitude no meio eclesiástico, que
muitas vezes é igual ao dos atenienses: ócio constante, inclinação ao
ego e busca das últimas novidades, sensações e emoções.
Escrevo
isto porque fiquei estarrecido ao ler alguns artigos na internet
noticiando que um tal ministro evangélico estrangeiro veio ao Brasil,
patrocinado e anunciado por uma agremiação evangélica chique, para
comunicar aos "brothers & sisters" daqui produtos supostamente
sobrenaturais e vanguardistas, como "ativação profética", "liberação de destino", "novas unções": sobrenaturalezas e espiritualices mais.
Impressiona-me
ver que, na busca por atrair público - e obviamente agregar um
pouquinho de fama, poder, influência e alguns contos no bolso, alguém se
dê ao trabalho de, usando Jesus como garoto-propaganda, inventar um
monte de coisas que não existem, que nunca fizeram falta e que não têm
utilidade alguma - nem teórica e nem prática, levando em conta que o
apelo do novo mexe com a vaidade e a cobiça das pessoas, seja porque
elas querem levar alguma vantagem sobre os outros, receber alguma
informação privilegiada ou por outro motivo qualquer.
O
apelo ao novo é algo tão explorado e fácil de fazer que vi algo assim,
ontem mesmo: enquanto eu organizava uns livros na minha estante, ouvia
representantes de um grupo religioso, num programa de televisão local,
anunciando um evento (não reparei se era evangélico ou não. Embora eu
creia que não; já que nem se falou do evangelho, e com muito custo se
mencionou metade de um versículo. E eu não estava no mesmo cômodo em que
a televisão para ver a imagem). Eles pareciam que realmente não tinham
nada de importante a dizer ou a testemunhar com aquele evento. Repetiam
sem parar as mesmas falas, e perdoem-me reproduzir a repetitividade
deles aqui, porque estou apenas participando-lhes o que eles disseram:
que "porque os jovens gostam de novidades...", "porque os jovens querem
novidades...", "porque os jovens curtem novas sensações...", "porque os
jovens querem vida..." Um milhão de vezes mencionaram as palavras
"jovens", "novo", "sensações", "novas", "experiências", "novidades"... O
engraçado é que era notório que a extrema falta de conteúdo dos
religiosos combinava perfeitamente com a absurda falta de ter o que
passar do programa televisivo. Sobrava tempo e faltava assunto (Ou eles
pagaram por tempo de mais na TV para assunto de menos?). O que ficou da
"mensagem", para mim, é que "se você é jovem e gosta de ficar sentindo
coisas novas, aquele evento é um 'must' para você! Você vai sentir
várias coisas! E o mais importante: são coisas novas! Ah... elas também
são de 'Deus'".
Enfim,
creio que isso apenas ilustra mais uma vez o que se vê naqueles
cartazes vãos de anúncios de programações de igrejas que aparentemente
deixaram, como propósito de sua existência, o testemunho do evangelho de
Jesus Cristo (digo "aparentemente" porque creio que, em muitas dessas
instituições, ainda há gente de Deus, mesmo que não fique evidente; e,
porque, amiúde, o que mais avulta é o que há de pior, e o que causa mais
impacto).
Igrejas
que deixam o evangelho para viver de novidades, como não têm mais razão
de existir, subsistem apenas para atender à vontade das pessoas vazias
que sustentam seu funcionamento. Pessoas estas que, como não têm no
evangelho e no senhorio de Cristo uma âncora segura, uma Rocha e um
Norte para a vida, seguem arrastadas pela correnteza da modernidade cada
vez que um bueiro diferente é aberto; almas que têm, como filosofia e
propósito, o frescor das emoções, das sensações e das informações que as
vão tragando num sumidouro atraente, porém, fatal.
Curioso
que o velho apóstolo Paulo, em epístola escrita aos cristãos da região
da Galácia (porque eles estavam deixando a mensagem do evangelho da
salvação - que é o poder e sabedoria de Deus manifestados na pessoa e na
obra de Cristo na cruz - por obras da Lei de Moisés, que não podiam
salvar), censurou-os mais ou menos assim: "Gálatas, seus malucos! Quem foi que enfeitiçou vocês?" [Gálatas 3.1]...
Agora me sinto como ele parece ter se sentido ao escrever aquilo, com
um misto de espanto e urgência sem tamanho, ao olhar para a igreja
evangélica. Para a qual, simplesmente ouvir o evangelho, que nunca
deveria deixar de ter sido sua essência, hoje realmente soaria como algo
inédito: a grande novidade das velhas "boas-novas"!
E
se sobram ministros malucos que não pregam o evangelho por amor a Deus -
e já que nem mesmo o amor de Cristo os comove a fazer tal - que pelo
menos o fizessem, não por amor ao dinheiro ou às pessoas, mas por
amor... ao novo! Se eles não quiserem fazê-lo mesmo assim, queiramos
nós! Não temos opção. Pois, como repetia o velho Seu Barriga vestido de
garçom num episódio de Chapolim, em que levou muitas pancadas: "Estamos
aqui pra isso!". E, como dizia um bom e sábio apóstolo, de quem sinto
saudade tendo-o conhecido apenas de ouvir falar, o qual agora está
descansando no andar de cima, depois de uma vida terrena marcada pela
fidelidade exemplar, pelo fervor pelas imutáveis palavras da vida eterna
e pela renúncia a tudo pelo Salvador e Senhor que o amou e que deu a
Sua própria vida por ele: "o amor de Cristo nos constrange".
Que
o amor de Cristo, de fato, tome conta de nossas vidas e nos faça
prosseguir, a todos, para vivermos e testemunharmos o indispensável e
eterno evangelho, seja ele novo, seja ele velho!
"Pois
o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um
morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que
aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que
por eles morreu e ressuscitou." - 2 Coríntios 5.14-15, NVI
Por Avelar Jr.
Também publicado no Não, Obrigado!
Por Avelar Jr.
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